tag:blogger.com,1999:blog-31413582686166297852024-02-01T22:40:32.154-08:00A íntima desordem dos diasJéssicahttp://www.blogger.com/profile/03609341578233871900noreply@blogger.comBlogger1125tag:blogger.com,1999:blog-3141358268616629785.post-49838226938328898832015-12-04T07:02:00.002-08:002015-12-04T07:02:36.970-08:00O cabide<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh3FbnUU6u1s_u3v17tJXkhCYIRzrfsUc41s4tvWgfZwPzU7rShBH-KdzfmSaGC08IQvGYIFycfJA0-gsx1ZPrHzWPelYVGIV0kGxXoiy2twi_rjfsfP7U2JCikvXgIXnFPJPSH6FprBog/s1600/cabide.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh3FbnUU6u1s_u3v17tJXkhCYIRzrfsUc41s4tvWgfZwPzU7rShBH-KdzfmSaGC08IQvGYIFycfJA0-gsx1ZPrHzWPelYVGIV0kGxXoiy2twi_rjfsfP7U2JCikvXgIXnFPJPSH6FprBog/s320/cabide.jpg" width="182" /></a></div>
Confrontei um cabide no meu guarda-roupa nesta tarde. Na verdade, foi há apenas alguns minutos. Deveria ser natural encontrar cabides dentro de um armário de roupas. Nada mais óbvio. O grande porém está justamente nele, o cabide.<br />
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Deus sabe quantos anos tem aquele cabide. Talvez mais do que os meus vinte e sete, que já julgo longos e fartos. É feito de madeira boa, como não se fazem mais hoje em dia. O cabo é de um ferro resistente a tudo, que não enferrujou. Não entendo de cabides e não quero procurar pelo nome do modelo. É daqueles duplos que fecham com um estalo do cabo de ferro. É feito de madeira boa. E dentro há uma etiqueta da associação de cegos, onde foi fabricado. Pronto. A associação ainda existe? Existem ainda os cegos que o fabricaram? Mas eu existo. E o cabide também.<br />
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Fiquei um pouco paralisada olhando para ele e ele me olhou de volta. Não subestime o cabide, ele tem tantas memórias quanto eu. Ele pendurou por anos roupas de minha avó falecida. Alternou-se entre trajes de minha mãe e de meu pai, que já não vivem juntos. E, por Deus, o mais doloroso: ele sentiu pesar aos poucos as minhas próprias roupas, que foram crescendo, tomando forma. Desde o vestido florido da infância, quando ele não era um cabide antiquado e os anos não lhe pesavam tanto. Hoje o encontrei sustentando três vestidos adultos, pretos. Luto puro.<br />
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Não pude mais. Tive de deixar o quarto, a coisa viva que é o cabide. Há algo vivo em meu quarto agora, algo com que não posso lutar. Tão vivo, o fantasma de minhas memórias.<br />
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03/12/2015<br />
<br />Jéssicahttp://www.blogger.com/profile/03609341578233871900noreply@blogger.com0